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Dr. Hugo Rodrigues Gaspar

Ginecologista/Obstetra

Dr. Hugo Gaspar

Cancro ginecológico
A prevenção começa no conhecimento

HPA Magazine 15


O cancro ginecológico é qualquer cancro que se inicie no sistema reprodutor feminino. É nomeado consoante a estrutura de onde se originou: colo uterino, endométrio (revestimento interno do útero), ovário/trompa, vagina, vulva, neoplasia do trofoblasto gestacional e sarcomas uterinos. Inclui igualmente o cancro da mama que não será abordado neste artigo.
Segundo dados do Globocan (Agência Internacional para a Pesquisa sobre Cancro) verificaram-se em 2018 em Portugal 750 casos novos de cancros do colo uterino, 1069 do corpo do útero, 574 de cancros do ovário, 222 de cancros da vulva e 33 de cancros da vagina.
Consoante o tipo de cancro os fatores de risco, as estratégias preventivas, os diagnósticos e a terapêutica são diferentes. Neste artigo destacarei alguns aspetos dos cancros mais frequentes: colo, endométrio e ovário.



 

PROTEJA-SE E ESTEJA ATENTA
A avaliação ginecológica é muito importante e pode evitar o aparecimento ou diagnosticar precocemente muitos casos da patologia oncológica e, desta forma melhorando muito o prognóstico da doença e a radicalidade dos tratamentos. A avaliação ginecológica deve ser realizada com uma periodicidade mínima de 1 ano, no caso de aparecerem sinais de alerta.

CANCRO DO COLO DO ÚTERO
A etiologia do cancro do colo uterino é na maioria dos casos uma infeção persistente pelo vírus do papiloma humano (HPV). É importante referir que cerca de 50-80% das mulheres sexualmente ativas terão em alguma fase da sua vida esta infeção, mas um número reduzido terá um cancro do colo do útero. Para prevenir esta tipologia de cancro temos a vacina contra o HPV, que atualmente faz parte do Plano Nacional de Vacinação, quer para raparigas quer para rapazes. A vacina pode ser igualmente administrada na idade adulta e apresenta uma eficácia de cerca de 90% na prevenção de lesões pré-malignas e cancro do colo uterino. De referir que pode proteger igualmente outros tipos de cancro: ânus, orofaringe, vagina, vulva e pénis.
Outra estratégia para prevenir este tipo de cancro é a realização de citologia do colo (Papanicolau) e/ou o teste de HPV.

CANCRO DO ENDOMÉTRIO
Nos países desenvolvidos é o tipo de cancro ginecológico mais frequente, ocorrendo sobretudo acima dos 50 anos, mas pode aparecer em idades mais precoces (4% surgem antes dos 40 anos). Os fatores de risco são a idade, a obesidade, a terapêutica hormonal com estrogénios sem utilização de progesterona, a terapêutica com tamoxifeno (fármaco usado no tratamento de alguns cancros), ter familiares com cancro do endométrio ou colorretal, ter efetuado radioterapia pélvica, entre outros. 
Os sinais de alerta são uma hemorragia vaginal que não é normal para a paciente ou um corrimento vaginal. Este tipo de cancro pode igualmente causar dor ou pressão pélvica.
Salienta-se que no caso de ocorrer sangramento após a menopausa, a mulher deve procurar o seu ginecologista. Felizmente na maioria dos casos o diagnóstico não será um cancro do endométrio.

CANCRO DO OVÁRIO E TROMPA
Este cancro tem menor incidência que os anteriores, mas é infelizmente um dos cancros mais letais nas mulheres. Os sintomas podem ser pouco marcados no início da doença, levando a que cerca de 75% dos casos quando diagnosticados, já se encontrem em estádios avançados. 
Deverá estar atenta e procurar ajuda médica se: sentir dor pélvica, abdominal ou nas costas; aumento do volume abdominal; sentir-se enfartada muito rapidamente ou dificuldade em se alimentar; urgência urinária; aparecimento de obstipação ou aparecimento de fadiga marcada.
Para o prognóstico deste tipo de tumor é muito importante a estratégia inicial de tratamento, qualidade/diferenciação da cirurgia realizada e o surgimento de algumas terapêuticas novas.
Uma forma de diminuir o risco do seu aparecimento é retirar as trompas uterinas, sendo que este procedimento deve ser considerado em casos de desejo de contraceção definitiva (laqueação de trompas) ou de cirurgias por outras causas.

IMPORTÂNCIA DA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR E DA ESPECIALIZAÇÃO /DIFERENCIAÇÃO 
O diagnóstico, tratamento e seguimento das doentes com cancro ginecológico deve ser multidisciplinar, ou seja, para além da Ginecologia deve incluir outras especialidades médicas: Oncologia Médica, Radio-oncologia, Imagiologia e Anatomia Patológica (entre outras).
A Ginecologia Oncológica é a área da especialidade de Ginecologia e Obstetrícia que se dedica a estas patologias. Cada doente e cada caso são diferentes e por isso a abordagem deve ser personalizada. Do ponto de vista cirúrgico, o tratamento destas doentes pode ser complexo e exige especialização. Sabemos que a cirurgia minimamente invasiva pode ser aplicada em muitos casos, o que apresenta várias vantagens: menos perda de sangue durante a cirurgia, menor dor no pós-operatório, melhores resultados estéticos e recuperação mais rápida. Em determinadas situações, a via clássica (laparotomia) é preferível e, nestas situações é necessário seguir os protocolos mais recentes para a abordagem pré, intra e pós-operatória, sendo também muito importante a colaboração dos colegas de Anestesiologia para o sucesso terapêutico.
É igualmente significativo ter disponível no Centro que trate cancro ginecológico colegas com experiência nesta área das especialidades de Cirurgia Geral, Urologia, Cirurgia Plástica, Medicina Intensiva, Genética Médica e Medicina Nuclear, bem como de outros profissionais de saúde: enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, pois para um atendimento de qualidade e que respeite a especificidade de cada doente, é determinante a diferenciação e o trabalho em equipa.