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Dr. Victor Miranda

Pediatra 


 

Dr. Victor Miranda

A criança com tosse

HPA Magazine 17

A tosse é um importante e útil mecanismo fisiológico reflexo para limpar as vias aéreas e que serve também para as proteger de inalações acidentais. Em muitas situações é sintoma de doença, sendo por isso motivo frequente de preocupação dos pais e de consulta em Pediatria.
Podemos classificar a tosse em tosse seca quando não tem muco associado, ou produtiva quando tem muco. A intensidade e padrão diário também são variáveis. 
Há várias causas possíveis para tosse nas crianças, incluindo infeções virais (as mais frequentes, de que são exemplo as nasofaringites e as bronquiolites agudas) ou bacterianas, inalação de objeto estranho, sibilância recorrente, asma e outras doenças respiratórias. 


A criança com tosse


 

Existem alguns sinais aos quais os pais devem estar atentos e que requerem avaliação médica:
• Tosse persistente em crianças pequenas (abaixo dos 6 meses)
• Tosse que induz vómitos ou interfere significativamente com o sono
• Sinais de dificuldade respiratória (retrações no tórax, “pieira”, respiração mais rápida) ou respiração muito ruidosa
• Tosse com sangue ou expetoração amarelada/esverdeada
• Tosse persistente após episódio de engasgamento
• Dificuldade na ingestão de alimentos sólidos ou líquidos
• Febre persistente ou outros sintomas associados que causem preocupação
• Tosse com 2 semanas ou mais de evolução e sem melhoria com tratamentos realizados.
Determinar a causa da tosse é fundamental para ser instituído o tratamento correto e passa principalmente pela história clínica e observação da criança, com recurso a exames complementares de diagnóstico quando necessário. 
Entre as medidas gerais para tentar a melhoria da tosse está o reforço da hidratação da criança e criar uma atmosfera húmida no banho ou com aparelho de nebulizações com soro fisiológico.
Uma das causas mais frequente de tosse nas crianças são as nasofaringites (“constipações”, de origem viral) que têm muitas vezes um padrão de tosse com agravamento à noite devido à secreção nasal posterior (que com a posição deitada escorre para a região da garganta) causando estímulo para a tosse. Neste caso em particular, a higiene nasal adequada é fundamental para a sua melhoria.
A tosse laríngea (por vezes referida como “tosse de cão”) é uma tosse áspera e seca, associada a inflamação da laringe. Por vezes, existe rouquidão e febre associada. Respirar ar mais frio, fazer atmosfera húmida e anti-inflamatórios pode ajudar na resolução. 
 

As bronquiolites são infeções dos bronquíolos (a parte mais pequena e distal da árvore brônquica), causando estreitamento destas vias e produção de muco. O principal agente infecioso é o Vírus Sincicial Respiratório. O resultado é um quadro de dificuldade respiratória em que é frequente surgir respiração mais acelerada, sibilância (“pieira”), tiragem (retrações por baixo da grelha costal/entre as costelas/acima do esterno) e tosse. Conforme a idade podem ser utilizadas várias opções terapêuticas, com os casos mais graves a justificar internamento para fornecer oxigénio suplementar e reduzir o esforço respiratório. 
A asma é uma causa frequente de tosse na idade escolar e adolescência. É uma doença inflamatória das vias respiratórias que pode ter vários fatores desencadeantes (alérgenos, exercício, fumo de tabaco, etc.), e cursa com sensação de dificuldade respiratória e respiração mais rápida/superficial e sibilância. O tratamento pode ser dividido em medicação de crise e medicação de controlo/prevenção.  
Como já foi abordado previamente, o tratamento efetivo vai sempre depender da idade da criança e da causa da tosse, podendo passar por medidas simples como a higiene nasal já referida, até ao uso de anti-inflamatórios, broncodilatadores, anti-histamínicos, antibióticos, descongestionantes, entre outros. 
Não está recomendado o uso de xaropes expetorantes ou antitússicos por rotina, apenas com indicação médica. Os expetorantes tornam as secreções mais fluídas e isso até pode acabar por aumentar a tosse inicialmente, e os antitússicos eliminam o reflexo da tosse mas sem tratar a sua causa. 
Em certos casos pode ser necessária fisioterapia respiratória (“cinesioterapia”) para auxiliar na eliminação de secreções acumuladas.
Sendo a tosse um sintoma comum a várias condições e doenças é necessária uma história clínica bem elaborada e observação da criança de modo a conseguir uma correta abordagem e tratamento.