tempos médios de espera

Hospital Particular Alvor

00h45m

Urgent Care

Hospital Particular Gambelas

00h20m

Urgent Care

00h00m

Paediatrics

Hospital Particular da Madeira

00h18m

Paediatrics

00h32m

Urgent Care

Madeira Medical Center

00h00m

Urgent Care

Enf.º Tito Félix

Enfermeiro Especialista 
em Saúde Materna 
e Obstetrícia
Serviço de Ginecologia 
e Obstetrícia

 

Enf.º Tito Félix

Dimensões culturais na gravidez e parto

Uma abordagem multicultural dos cuidados em saúde materna

HPA Magazine 20

A cultura desempenha um papel relevante quando se trata da preparação da mulher para a experiência da maternidade, na medida em que é na cultura que residem os principais traços que nos diferenciam entre os humanos.
A maternidade em geral e especificamente a gravidez e parto não fogem a essa regra e estão envolvidos e contagiados por tudo o que são crenças pessoais, valores civilizacionais e práticas culturais.Dos profissionais de saúde não é esperado que conheçam as especificidades culturais de cada utente, mas é suposto que usem uma comunicação e mente aberta e manifestem respeito na interação com essas mulheres e família.



 

Assim sendo, há questões importantes subjacentes à assistência às mulheres de backgrounds culturais diversos dos europeus e ocidentais. O presente estudo enumera genericamente alguns itens a serem levados em linha de conta num primeiro contacto com estas utentes:

> Onde nasceu?
> Quais são as suas raízes étnicas?
> Há quanto tempo está em Portugal?
> Qual é a sua língua materna?
> Precisa de intérprete ou domina um segundo 
  idioma?       
> Que hábitos ou práticas relacionadas com a gravidez, 
   parto e pós-parto a ter em conta?
>  Que hábitos alimentares particulares são respeitados 
    neste período?
> Algum aspeto particular nos cuidados ao recém-
   -nascido?
> Qual a importância da amamentação?
> Como se processa a vigilância da gravidez?
De forma complementar é pertinente perceber se há alguma resistência a um profissional de saúde do sexo masculino, como é encarada (e manifestada) a dor, qual é a importância atribuída à figura do pai como acompanhante em todo o processo (ou outra figura familiar relevante) e também como é experienciado culturalmente o puerpério.
A título de curiosidade, na maioria dos países africanos, no médio-oriente e alguns países asiáticos, o pai é relegado para um papel secundário, não sendo requisitada a sua presença na maternidade ou o seu envolvimento neste processo. Outro exemplo, na Índia é ilegal a determinação do sexo fetal. No Japão o parto e a dor são encarados de forma natural e fisiológica sendo raro o uso de analgesia. Também no Japão é interdito o banho e lavar o cabelo após o parto e por um período de 7 dias. Em muitos países asiáticos existem centros de confinamento onde a mulher permanece por um determinado período após o parto. Existem maternidades em que o alojamento conjunto não é uma realidade e o recém-nascido só é trazido à presença da mãe para ser alimentado.     
O estudo a que se reporta este artigo caraterizou alguns perfis étnicos de modo a melhor percebê-los e respeitá-los, no que respeita a Comunicação, Saúde, Gravidez, Parto e Pós-Parto. Por coincidirem com grupos relevantes em Portugal decorrentes de grandes fluxos de emigração, e também por serem tão distantes a nível geográfico e diversos a nível cultural, selecionámos a população chinesa e indiana.    
POPULAÇÃO CHINESA

Comunicação
Este grupo populacional não fala espontaneamente sobre os seus problemas porque assume que os ocidentais alegadamente não percebem a sua cultura e os seus hábitos. Muitos evitam dizer “não” alegando que é pouco educado fazê-lo. Discussões abertas sobre sexualidade é muitas vezes considerado um tabu. A maioria das mulheres chinesas prefere ser assistida por médicas e enfermeiras.            

Saúde
Os alimentos são comumente classificados em dois grandes grupos designados por “quente” e “frio” de acordo com os efeitos que provocam no organismo, sendo a saúde entendida como um meio termo ou um equilíbrio entre a energia positiva (yang) e a energia negativa (yin).     
A doença é atribuída ao excesso de alimentos frios e/ou quentes no organismo. Pode também dever-se a herança pelos erros dos familiares ancestrais, pela combinação do ano, dia e mês de nascimento, influência de forças malignas e défice de Feng Shui. É de salientar que a medicina tradicional chinesa assenta em tratamentos holísticos e acupuntura entre outros.

Gravidez
Neste período (como também num estado de doença), a mulher assume uma posição de dependência dos cuidadores. O incentivo ao autocuidado que muitas vezes promovemos pode ser entendido como falta de cuidado e atenção.       
Acreditam que a gravidez e o parto afetam o equilíbrio energético que o estado de “boa” saúde requer. Assim, para manter a mãe e o recém-nascido saudáveis é encorajada a ingestão de caldos de galinha. O borrego é contraindicado porque pode provocar epilepsia no bebé e o ananás é um alimento abortivo.

Parto
Culturalmente a mulher chinesa entende que não deve ter manifestações exuberantes como o choro ou o grito. As posições de sentada ou de cócoras são as mais consideradas tradicionalmente. Idealmente a mãe ou a sogra são as figuras mais presentes em detrimento do marido.

Pós-parto
A maioria das puérperas respeita um período de isolamento durante o qual se promove o seu repouso (o recém-nascido é separado da mãe nas primeiras 24h), roupas quentes, banho limitado e ingestão de alimentos classificados como “quentes”. Em determinadas regiões a puérpera não toma as refeições em conjunto com a família por se considerar impura devido aos lóquios.

Cuidados ao recém-nascido
Tradicionalmente o recém-nascido é enfaixado e é promovida uma contenção completa. É colocado em decúbito ventral. Existe a crença de que se o recém-nascido vestir roupas usadas pode assumir caraterísticas do outro individuo.  A mancha mongólica (pigmentação azulada na região sacrococcígea) é muito comum nestes bebés e pode persistir ate aos 24 meses de idade.
O colostro é considerado impuro, pelo que é desperdiçado até à transição para o leite materno. Em substituição os bebés são alimentados com água de arroz ou fórmula artificial.

 

POPULAÇÃO INDIANA

Comunicação
Os pacientes indianos podem sempre responder “sim” para agradar aos profissionais de saúde, mesmo não tendo percebido perfeitamente o que lhes foi explicado. Por isso é extremamente importante validar com eles a informação transmitida.

Saúde
A medicina Ayurveda tem como princípio básico o equilíbrio dos elementos  Ar, Terra, Água, Éter e Fogo no nosso corpo. A alteração desse equilíbrio (homeostase) resulta em doença, e tem como origem determinados hábitos alimentares incorretos. O sangue é visto como a força da vida e algo precioso.

Gravidez
Na Índia a gravidez é considerada um processo fisiológico normal que não carece de intervenção de profissionais de saúde, a não ser em casos excecionais. Deste modo, as mulheres têm uma visão fatalista em que, tal como na vida, a gravidez e o seu desfecho estão fora do seu controlo.
Os rapazes são preferidos às meninas e por isso a determinação do sexo fetal é ilegal na Índia, pois muitas mulheres admitem pôr termo à gravidez quando acreditam ter gerado uma menina. Algumas acreditam no poder de algumas ervas medicinais para gerar um menino. A gravidez gemelar é encarada como uma maldição. Comidas “frias” são recomendadas no início da gravidez para evitar o abortamento e comidas quentes são indicadas para o final da gravidez por se acreditar que facilitam o parto. As classes mais privilegiadas fazem por respeitar os desejos da mulher grávida. Um bebé que chora muito é indiciador de que a mãe não foi bem tratada e acarinhada.

Parto
A parturiente é isolada da família pois encontra-se num estado “impuro” e o choro e o grito são bem aceites. Em todo o processo a mulher pode optar por estar deitada, de cócoras ou sentada num banco apropriado. A perda de sangue após o parto é encarada como um processo de purificação do útero e da mulher.
Pós-parto
A puérpera e o recém-nascido são considerados seres vulneráveis pelo que o seu isolamento pode ser respeitado até 40 dias para evitar que se exponham a doenças e espíritos malignos. É também considerado um período de purificação da mulher. Os cuidados são prestados pelas mulheres da família que tomam decisões acerca dos alimentos mais adequados para a puérpera: leite, manteiga, ghee e alguns tipos de peixe são potenciadores da produção de leite materno. O alho é um alimento que favorece a involução uterina e como tal o processo de purificação da mulher. A placenta não é desperdiçada e é simbolicamente enterrada num local especial. O banho frio é desaconselhado, sendo o banho quente aconselhado.

Cuidados ao recém-nascido
O recém-nascido é visto como altamente suscetível de “mau olhado” pelo que toda a sua manipulação é criteriosamente encarada. Olhar, observar, examinar, manipular por estranhos é visto com alguma relutância pela família mais próxima, o que pode comprometer a prestação de cuidados por parte de profissionais.  No entanto, é prática comum a massagem com óleos por parte da mãe e outras mulheres da família. Para facilitar a eliminação do mecónio é dada ao recém-nascido uma mistura de ghee com açúcar, o que também é manifestamente desaconselhado pelos profissionais de saúde. A amamentação é um processo habitual e prolongado, em livre demanda, mas só tem lugar após o início de produção de leite. O colostro é desperdiçado e desvalorizado, prática que não vai ao encontro das recomendações dos profissionais.