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Dr. Ana Montalvão

Hematologista

 

Ana Montalvão

Anemia e deficiência de ferro: A "carência escondida"

HPA Magazine 22 // 2024


A deficiência de ferro, e a sua principal consequência – a anemia ferropénica – é hoje uma das formas mais comuns de défice nutricional. Afeta mais de 2 biliões de pessoas – mais de um terço da população mundial. Tendo elevada prevalência nos países menos desenvolvidos, é também comum nos países industrializados. 
Uma vez que os sinais podem ser pouco percetíveis, designamo-la de “carência escondida”; e é pelo mesmo motivo que o tratamento adequado se inicia frequentemente em estadios avançados de doença. 

 


Anemia e deficiência de ferro: A


 

Qual a importância do ferro no organismo?
Alguns nutrientes são considerados essenciais - significando que o organismo não tem capacidade para os produzir. O ferro é um deles, tendo de ser obtido através da alimentação. 
É essencial para a produção de hemoglobina – pigmento vermelho que toma parte nos eritrócitos (glóbulos vermelhos) e cuja função é captar o oxigénio nos pulmões e transportá-lo a todas as células (dos músculos, órgãos, etc), para além de levar ainda, no regresso, algum dióxido de carbono para que possa ser eliminado através da respiração. 
Quando as reservas de ferro se encontram esgotadas, a produção de eritrócitos e de hemoglobina fica comprometida: aí instala-se a Anemia Ferropénica.

Quais as principais causas para a deficiência de ferro?
1. Em determinadas fases da vida as necessidades de ferro aumentam: períodos de crescimento acelerado como a adolescência, gravidez (principalmente em gestações sucessivas) e amamentação (sobretudo prolongada). Assim, há que proceder à suplementação adequada nestas fases.
2. O caso de dietas “radicais“ leva frequentemente a deficiência de ferro, assim como a alterações de equilíbrio na alimentação (por exemplo, nos idosos que deixam de ter autonomia para preparar refeições equilibradas). A dieta vegetariana não leva obrigatoriamente à falta de ferro, mas há que tomar as devidas precauções para a evitar.
3. Certas doenças gástricas e do restante tubo digestivo afetam a absorção, nomeadamente do ferro. Incluem-se aqui também algumas infeções e parasitoses. Pode haver uma ingestão aparentemente adequada, mas o organismo não consegue utilizar o ferro, pois este não passa do trato intestinal para o sangue. 
4. As hemorragias, quer sejam agudas quer crónicas, levam necessariamente a deficiência de ferro. São exemplos as perdas menstruais exageradas, as hemorragias peri e pós-parto, as úlceras gástricas e lesões intestinais. 

Quais os sinais e sintomas da deficiência de ferro?
Inicialmente as manifestações são inespecíficas, tais como fadiga, falta de concentração, cansaço para esforços menores ou suscetibilidade a infeções. 
Mais tardiamente ocorrem palidez, fragilidade das faneras (cabelo e unhas), queilite angular (fissuras nos cantos da boca) e outras alterações na pele (como secura) e nas mucosas (como na boca ou garganta).
Estes sinais e sintomas podem ajudar no diagnóstico, mas é necessário confirmar a existência de anemia ferropénica (excluindo outras causas de anemia), através de testes específicos. 

Como é confirmado o diagnóstico de deficiência de ferro?
O principal meio de diagnóstico é através de análises ao sangue, determinando a concentração de hemoglobina no mesmo. O valor deverá estar entre 12 e 14 g/dl nas mulheres e entre 13 e 15 g/dl nos homens. Abaixo destes limites, considera-se que o indivíduo tem anemia.
Outro parâmetro fundamental é a ferritina, proteína com a função de armazenar o ferro. Estas reservas são essenciais para o organismo responder rápida e adequadamente a qualquer aumento das necessidades de ferro, para produzir hemoglobina. Os valores de referência para a ferritina variam consoante os laboratórios, mas geralmente é aceite que devem estar entre 100 e 300 ųg/l. A ferritina pode encontrar-se baixa antes mesmo do valor de hemoglobina baixar, sendo importante corrigi-la a tempo de evitar a instalação da anemia. 
De referir ainda os restantes parâmetros da "cinética do ferro", nomeadamente a transferrina, sua saturação, ferro sérico e capacidade total de fixação de ferro, através dos quais o Hematologista pode aquilatar com maior precisão a situação do doente e qual o melhor tratamento. 

Quanto tempo pode demorar o tratamento?
Com ferro oral, a duração do tratamento tem um mínimo de 2-3 meses. Os sintomas poderão melhorar após 2 a 4 semanas, pois a normalização dos valores de hemoglobina leva em média esse tempo; no entanto, é fundamental continuar o tratamento por mais cerca de 2 meses, porque o período de tempo necessário para a reposição das reservas de ferro é mais longo. Assim, uma interrupção precoce do tratamento pode levar a recaída de anemia e respetivos sintomas. 
Quanto ao ferro intravenoso, as doses e número de administrações são calculadas pelo médico Hematologista, baseadas nos níveis de hemoglobina e ferritina, peso e altura do doente e condição física, nomeadamente cardíaca. Podem ir desde uma única administração até seis tratamentos, separados em cerca de uma semana. 
Em qualquer dos casos, é feita uma avaliação da resposta ao tratamento, na qual se deverão despistar (se tal ainda não foi feito) outras causas não resolvidas de anemia ferropénica, a fim de evitar recaídas. 

É possível prevenir a deficiência de ferro?
A alimentação é a única fonte de ferro, pelo que uma dieta equilibrada é a melhor forma de prevenir a deficiência de ferro e a consequente anemia ferropénica. Sobretudo nas situações em que as necessidades estão aumentadas, como a gravidez e o crescimento; deve assegurar-se uma ingestão adequada de ferro, através de alimentos ricos no mesmo, e evitar-se alimentos ou medicamentos que comprometem a sua absorção. 

Estas informações não substituem a Consulta de Hematologia; nesta, o caso particular de cada doente é avaliado, os exames adequados são solicitados e as opções de tratamento disponíveis são discutidas e decididas em conjunto com o doente. 
Com as técnicas diagnósticas e os tratamentos disponíveis hoje em dia, a deficiência de ferro pode ser tratada com elevados níveis de eficácia e segurança. Independentemente do tipo de tratamento, o seu sucesso depende sempre da cuidadosa avaliação prévia e da monitorização pós-tratamento, nos momentos e pelos meios adequados. 

 

Como se trata a deficiência de ferro?
O tratamento vai depender da gravidade da deficiência de ferro:
A. Se for uma deficiência ligeira, a adequação da dieta e suplementação com multivitamínicos pode ser suficiente. 
B. Nas deficiências moderadas a graves, a administração de ferro por via oral é o tratamento padrão. Existem vários tipos de formulações orais:
1. Sais bivalentes (sulfato ferroso): eficazes, mas com frequentes efeitos secundários gástricos ou intestinais (como sabor metálico), com interações com outros medicamentos e diminuição de absorção com alimentos. 
2. Complexos de ferro trivalente (complexo ferro III- polimaltose): com maior tolerância gastrointestinal, podem ser administrados com alimentos, mas ainda assim têm efeitos secundários, como coloração escura das fezes.
3. Complexos de ferro lipossómico-sucrossómico: com a maior taxa de absorção de entre as formulações orais, não leva a sabor metálico nem fezes escuras, mas ainda assim, pode ver a eficácia comprometida com certos alimentos. 
C. Nas situações de anemia ferropénica grave, em que a reposição de ferro tem que ser feita rapidamente, bem como nos doentes com défice de absorção intestinal ou naqueles que não toleram terapêutica oral, está indicada a administração de ferro intravenoso (ferro-sacarose ou ferro-carboximaltose).

Quanto tempo pode demorar o tratamento?
Com ferro oral, a duração do tratamento tem um mínimo de 2-3 meses. Os sintomas poderão melhorar após 2 a 4 semanas, pois a normalização dos valores de hemoglobina leva em média esse tempo; no entanto, é fundamental continuar o tratamento por mais cerca de 2 meses, porque o período de tempo necessário para a reposição das reservas de ferro é mais longo. Assim, uma interrupção precoce do tratamento pode levar a recaída de anemia e respetivos sintomas. 
Quanto ao ferro intravenoso, as doses e número de administrações são calculadas pelo médico Hematologista, baseadas nos níveis de hemoglobina e ferritina, peso e altura do doente e condição física, nomeadamente cardíaca. Podem ir desde uma única administração até seis tratamentos, separados em cerca de uma semana. 
Em qualquer dos casos, é feita uma avaliação da resposta ao tratamento, na qual se deverão despistar (se tal ainda não foi feito) outras causas não resolvidas de anemia ferropénica, a fim de evitar recaídas. 

É possível prevenir a deficiência de ferro?
A alimentação é a única fonte de ferro, pelo que uma dieta equilibrada é a melhor forma de prevenir a deficiência de ferro e a consequente anemia ferropénica. Sobretudo nas situações em que as necessidades estão aumentadas, como a gravidez e o crescimento; deve assegurar-se uma ingestão adequada de ferro, através de alimentos ricos no mesmo, e evitar-se alimentos ou medicamentos que comprometem a sua absorção. 

Estas informações não substituem a Consulta de Hematologia; nesta, o caso particular de cada doente é avaliado, os exames adequados são solicitados e as opções de tratamento disponíveis são discutidas e decididas em conjunto com o doente. 
Com as técnicas diagnósticas e os tratamentos disponíveis hoje em dia, a deficiência de ferro pode ser tratada com elevados níveis de eficácia e segurança. Independentemente do tipo de tratamento, o seu sucesso depende sempre da cuidadosa avaliação prévia e da monitorização pós-tratamento, nos momentos e pelos meios adequados.