Otorrinolaringologista
Pneumologista
HPA Magazine 6
A Surdez Súbita Neurossensorial envolve a perda aguda da audição. Pode ter causas variadas, se bem que a maioria é idiopática (sem causa conhecida).
Habitualmente é unilateral e o prognóstico dependente da gravidade da perda auditiva. É considerada uma situação urgente, cujo tratamento deve ser iniciado nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. Uma das possibilidades terapêuticas é a oxigenoterapia em câmara hiperbárica.
Perdi a audição. Tenho uma surdez súbita neurossensorial?
A perda de audição é um problema comum que todos acabamos por vivenciar. Ocorre mais frequentemente após uma viagem de avião ou subida à montanha, desenvolvendo-se uma sensação de ouvido preenchido, e a necessidade de fazer o ouvido “estalar” para ouvir melhor. A diminuição da audição também pode ser manifestação de uma infeção do ouvido. Este sintoma é, na maioria das vezes, transitório. O outro extremo é a perda permanente da audição que surge ao longo da idade e se relaciona com o “envelhecimento” do ouvido.
Porque é que perdi a audição subitamente?
Na avaliação da causa o seu médico irá fazer um conjunto de questões e avaliar as estruturas do ouvido. Este está dividido em 3 segmentos: ouvido externo, constituído pelo pavilhão auricular (orelha) e canal auditivo; ouvido médio, que compreende o tímpano, ossículos e cavidade do ouvido médio; e o ouvido interno, contendo a cóclea, canais semicirculares e canais auditivos. Existem múltiplas patologias que se apresentam com perda auditiva, as principais são:
Ouvido Externo
Infeções: Podem desencadear o bloqueio do canal auditivo externo devido à acumulação de cerúmen, pús e inflamação. A otite externa ocorre normalmente após trauma local ou contaminação por natação, duche ou exposição a condições de humidade. O principal sintoma é a otalgia (dor de ouvidos), comichão, pús no ouvido e perda de audição.
Cerúmen: Alguns pacientes não são capazes de eliminar o cerúmen que produzem ou usam cotonetes que empurram o cerúmen para dentro do canal. Estes doentes necessitam de limpezas periódicas do canal auditivo. Mais frequentemente ocorre nas situações de pele oleosa ou na presença de doenças dermatológicas como o eczema.
Ouvido Médio
Disfunção da tuba auditiva: A tuba auditiva liga a nasofaringe (fundo do nariz) ao ouvido médio. A disfunção da tuba auditiva ocorre principalmente no contexto de infeção respiratória alta (gripe) ou sinusite, associada ou não a alergias. Os doentes desenvolvem sensação de ouvido tapado e perda auditiva que pode persistir até 6 semanas.
Infeção: A otite média é comum na idade pediátrica, podendo também ocorrer em adultos. Normalmente associa-se a otalgia, febre, sensação de ouvido tapado e perda de audição. Isto ocorre porque o fluido dentro do ouvido médio impede o tímpano de vibrar. Neste caso o tratamento envolve o uso de antibióticos. Como na disfunção da tuba auditiva, o fluido irá desaparecer dentro de 4 a 6 semanas em 70% dos casos.
Perfuração do tímpano: Pode ter diversas causas, incluindo: lesão por explosão, barotrauma (mergulho), trauma por corpo estranho, fraturas do osso temporal, infeção do ouvido, trauma com cotonetes ou outros objetos. Após uma perfuração aguda o ouvido precisa de ser avaliado sob microscopia para garantir que não existem outras complicações. Deverá ser realizado um estudo da audição. As perfurações podem encerrar espontaneamente ou necessitar de cirurgia.
Ouvido Interno
Presbiacusia: A presbiacusia, ou perda auditiva associada à idade, é uma causa comum de perda auditiva. Carateriza-se pela perda auditiva progressiva, simétrica, de predomínio nas frequências agudas, que ocorre com o avançar da idade. Queixas comuns incluem a incapacidade de compreender o discurso num ambiente ruidoso e dificuldade em compreender as consonantes. O acufeno (zumbido) pode também estar presente. Nestes casos a reabilitação auditiva com próteses (aparelhos) têm benefício para o doente.
Doença de Ménière: Os doentes com doença de Ménière queixam-se de episódios de vertigem incapacitante, associados a sensação de plenitude auricular, acufeno e perda auditiva. Os episódios de perda auditiva podem ocorrer diariamente, semanalmente ou mensalmente. Esta doença crónica pode causar impacto na qualidade de vida, múltiplos episódios de vertigem incapacitante ou perda auditiva grave.
O que é a surdez súbita neurossensorial (SSNS)?
A SSNS é uma causa pouco frequente de perda auditiva. Envolve a perda aguda da audição, sem causa identificável. É quase sempre unilateral e desenvolve-se num período inferior a 72 horas. Apesar de sabermos que ocorre ao nível do ouvido interno, a maior parte dos casos é idiopática (sem causa conhecida), e o prognóstico depende da gravidade da perda auditiva inicial.
Os doentes devem procurar avaliação urgente por Otorrinolaringologia. O seu médico irá excluir as causas mais comuns de perda aguda de audição e realizar observação do ouvido com microscópio. Um estudo da audição é também necessário através de provas clínicas ou realização de audiometria.
Quando se suspeita de SSNS o doente deverá realizar Ressonância Magnética sempre que possível. Este exame poderá ser realizado nos 6 meses após o diagnóstico. Na grande maioria dos casos o problema não é identificado na ressonância. Contudo, esta permite excluir a presença de lesões ao nível do sistema nervoso periférico e central.
Tenho surdez súbita neurossensorial! E agora?
A SSNS pode ser tratada, mas a resposta ao tratamento depende de vários fatores. Normalmente indivíduos jovens, que se apresentem com sintomas ligeiros, perda auditiva moderada e sem co-morbilidades (outras doenças), vão apresentar melhor recuperação. De acordo com estudos recentes, aproximadamente dois terços dos doentes com SSNS vão apresentar melhoria, apesar de esta recuperação nem sempre ser completa.
O tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível, preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas. Os corticóides são o tratamento de primeira-linha e devem ser administrados oralmente ou por via intratimpânica. Esta última é habitualmente reservada para os casos em que a audição não melhora após o tratamento inicial com os corticóides orais, ou em doentes com contra-indicação para esta medicação.
Qual o papel da oxigenoterapia hiperbárica no tratamento da ssns?
As orientações recentes publicadas pela Academia Americana de Otorrinolaringologia, bem como pelo Comité Europeu de Medicina Hiperbárica, recomendam o tratamento com oxigénio hiperbárico (OTH).
A oxigenoterapia hiperbárica (OTH) é um tratamento que se realiza através da inalação de oxigénio a 100% com pressão ambiente superior à pressão atmosférica (o ar que habitualmente se respira tem 21% de oxigénio). Para criar estas condições são utilizadas câmaras hiperbáricas, que são compartimentos estanques resistentes a pressões elevadas (Figura 1).
Nestas condições, aumenta a pressão arterial de oxigénio o que provoca igualmente o aumento da quantidade de oxigénio dissolvido no plasma (cerca de 22 vezes à pressão de 3 atmosferas absolutas) e o aumento do transporte de oxigénio para os tecidos e sua redistribuição, tendo efeitos nos tecidos que estão sujeitos a hipoxia (falta de oxigénio). O compromisso vascular e a diminuição do oxigénio da parte auditiva do ouvido interno (a cóclea) são a via final dos mecanismos que levam à perda de audição na surdez súbita neurossensorial.
A OTH é recomendada para os doentes que não recuperem a audição completamente após 2 semanas de tratamento com corticóides. No entanto, se o tempo de evolução da doença for superior a 3 meses a eficácia da OTH é limitada. Os doentes que apresentam maior benefício são os que têm uma perda de audição moderada a grave e os doentes com idade inferior a 60 anos.
O risco de efeitos adversos é pequeno, sendo o mais frequente a dificuldade do doente em equalizar o ouvido médio, podendo levar a barotrauma (perfuração da membrana do tímpano), pelo que é feito ensino e teste de pressurização antes de se admitir o doente para realizar sessões.
Em média são recomendadas 10 sessões, uma vez por dia, 5 dias por semana, com duração de 100 minutos. A câmara hiperbárica do Hospital de Alvor é uma câmara múltipla de 8 lugares. Durante as sessões de rotina os doentes são acompanhados por um enfermeiro, que está permanentemente dentro da câmara, sendo também supervisionados por um técnico e um médico no exterior da câmara.