Nesta entrevista, a Dra. Ana Montalvão, Hematologista do Grupo HPA Saúde, partilha informações relevantes sobre a medula óssea e o procedimento de biópsia, desde o processo até à sua importância no contexto clínico, exame essencial para o diagnóstico de diversas patologias hematológicas.
- O que é a medula óssea?
A medula óssea é um órgão / tecido, de tipo esponjoso, que se localiza no interior dos ossos (em maior quantidade nos ossos planos, como os ilíacos ou o esterno, mas também nos ossos longos). É o órgão responsável pela hematopoiese (produção de células hematológicas, como os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas), especificamente nas áreas denominadas "medula vermelha" (a mais abundante nas crianças). A restante área, chamada de "medula amarela" (mais abundante nas idades mais avançadas), é rica em gordura, mas pode ser convertida em medula vermelha, em casos de necessidade extrema de mais células. A medula é, portanto, um órgão fundamental, não só para a renovação/ regeneração sanguínea, mas também para o sistema imunitário.
- Porque razão se realiza uma biópsia/colheita de medula óssea?
Através da biópsia óssea é possível a colheita de uma amostra de medula, que permite diagnosticar uma série de patologias, não só primárias do sangue (como leucemias, mieloma múltiplo ou alguns linfomas) como outras doenças neoplásicas (como osteossarcoma ou metástases ósseas), infeciosas (osteomielite) ou mesmo metabólicas (como a doença de Paget). Em alguns casos de anemia, não resolvida com terapêutica médica e não esclarecida com análises de sangue, pode ser necessário o estudo medular (mielograma) para averiguar eventuais problemas na produção das células.
- Como é efetuada uma biópsia de medula óssea?
É realizada uma punção com agulha própria para biópsia óssea, geralmente sobre a espinha ilíaca póstero-superior (ponto do osso ilíaco que se localiza mais superficialmente), sob anestesia local (para prevenir a dor). Habitualmente é feita uma primeira aspiração (de sangue medular) sendo essa amostra tratada para observação microscópica em lâminas (mielograma), análises de imunologia e/ou genética (dependendo das hipóteses diagnósticas colocadas pelo Hematologista). Seguidamente, é efetuada a colheita de material ósseo (de pelo menos 1 cm) que é fixada e tratada para exame histológico (pela Anatomia Patológica, como as demais biópsias de qualquer órgão).
- É um procedimento demorado e doloroso?
O procedimento não é demorado (em circunstâncias normais, dura entre 10 a 15 minutos) e não deve ser doloroso: a anestesia local, feita calma e paulatinamente (primeiro na pele e tecido subcutâneo, depois no músculo e finalmente no periósteo, o tecido que reveste o osso) permitindo que a punção óssea propriamente dita não acarrete dor (pois, afinal, no interior do osso não existem extremidades nervosas). Habitualmente é dado no final da técnica um analgésico leve (como paracetamol) para evitar que o doente sinta desconforto quando termina o efeito do anestésico local.
15 de Outubro de 2024