tempos médios de espera

Hospital Particular Alvor

00h16m

Atendimento Permanente

Hospital Particular Gambelas

00h28m

Atendimento Permanente

00h21m

Pediatria

Hospital Particular da Madeira

00h09m

Atendimento Permanente

00h07m

Pediatria

Madeira Medical Center

Atendimento Médico
não programado

Dr.ª Rute Gonçalves

Pediatra

 

Dor Abdominal em idade pediátrica

HPA Magazine 14

 

A dor abdominal é um sintoma muito comum em idade pediátrica, desde o pequeno lactente, até a adolescência, tendo um pico na idade pré-escolar e escolar. Constitui um dos motivos mais comuns de ida a um serviço de urgência pediátrico. 
As causas são diversas podendo ser grosseiramente classificadas em causas orgânicas e funcionais.
As Causas Orgânicas, são aquelas em que encontramos uma causa física, que engloba um grande espectro de gravidade, desde a esofagite; úlcera gástrica ou duodenal; doença inflamatória intestinal; infeção urinária; apendicite aguda, entre outras.

 


 

 

Neste caso, a história clínica da criança, especificando os sinais e sintomas acompanhantes, as caraterísticas da dor e a sua localização, podem ser suficientes para essa suspeição. Para o diagnóstico definitivo de uma causa orgânica, são habitualmente necessários alguns exames auxiliares de diagnóstico que incluem análises de sangue e fezes e na maioria das vezes exames de imagem, como por exemplo ecografia abdominal e ainda exames mais invasivos como endoscopia digestiva alta e baixa (colonoscopia), sendo os últimos sempre realizados com o apoio da anestesiologia para sedação.
Alguns sinais e sintomas são mais orientadores para a dor abdominal de causa orgânica, nomeadamente:

  • Dor abdominal em criança com idade inferior a 2 anos;
  • Dor com localização específica, que não a área peri umbilical (à volta do umbigo);
  • Dor que desperta a criança durante a noite;
  • Dor que se acompanha de vómitos e/ou diarreia prolongada;
  • Perda de peso, diminuição importante do apetite, atraso de crescimento estatural;
  • Presença de sangue nas fezes; vómitos com sangue;
  • Aftas orais recorrentes;
  • Dentro destas causas orgânicas saliento as mais comuns: doença celíaca (intolerância ao glúten); infeção por Helicobacter pylori; doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e colite ulcerosa).

As Doenças Gastrointestinais Funcionais existem na idade pediátrica e no adulto e são habitualmente diagnósticos de exclusão. Ou seja, mesmo que a história clínica nos sugira este diagnóstico, são necessários alguns exames para excluir as causas referidas como ORGÂNICAS. Esta entidade engloba as seguintes patologias:

  • Cólica do lactente e regurgitação funcional- entidades típicas do lactente até aos 6 meses de idade;
  • Obstipação funcional;
  • Dor abdominal funcional;
  • Síndrome do colon irritável;
  • Síndrome dos vómitos cíclicos;
  • Aerofagia;
  • Dispepsia funcional.

Saliento em primeiro lugar a obstipação, que em mais de 90% dos casos é funcional, ou seja, não tem por base uma doença gastrointestinal específica, mas sim relaciona-se com caraterísticas da funcionalidade do trânsito intestinal de cada um. Tem alguma predisposição familiar e é a causa mais comum de referenciação a uma consulta de gastroenterologia pediátrica por apresentar dor abdominal recorrente. 
Trata-se da dificuldade em defecar e diminuição do número de dejeções por semana (inferior a 3 deposições por semana) ou dejeções com fezes muito duras (classificação de Bristol- tipo 1 e 2).
Há 3 fases críticas do desenvolvimento da criança para o aparecimento da obstipação:
1 - Introdução de cereais na fase de lactente (farinhas lácteas ou não lácteas);
2 - Fase do treino defecatório (2-3 anos);
3 - O início da escolaridade (5-6 anos).

A fase do treino defecatório entre os 24 e os 36 meses de idade, é uma fase de risco para o aparecimento de obstipação, pelo medo que a criança tem da dor anal durante a defecação, levando a manobras de retensão das fezes e dificuldade em transitar da fralda para o bacio. 
Muitas vezes as experiências negativas com a defecação (dor ao defecar; ser forçado a sentar na sanita mesmo referindo medo; uso de terapêutica retal; presença de sangue nas fezes) levam a acumulação de massa fecal no reto por recusa em eliminá-la e subsequente dor anal e abdominal, iniciando-se assim um ciclo vicioso.
Os erros alimentares (excesso de hidratos de carbono e açúcares) associados a uma dieta pobre em hortícolas e fruta fresca são a principal causa de obstipação. 
O tratamento passa muito pelo ensino do treino defecatório (posição de sentar na sanita com redutor e pés apoiados; incentivar a criança a sentar-se em horário regular; desmistificar o medo; tranquilizar) e por alteração dos hábitos alimentares errados e terapêutica laxante. 
Existem no mercado vários fármacos em formulações orais (xarope ou pó para dissolver) que não têm praticamente efeitos secundários, são palatáveis, não induzem qualquer habituação do sistema gastrointestinal e são realmente eficazes, contribuindo para a evicção da terapêutica retal. Os vulgares clisteres devem apenas ser usados em situações de urgência, pois aumentam a ansiedade associada a esta situação clínica.
 

A dor abdominal FUNCIONAL continua a ser uma situação clínica enigmática! É uma dor que a criança sente, mas não tem uma causa orgânica evidente. Tem maior incidência entre os 5-10 anos de idade. Obriga muitas vezes a investigações extensivas e desnecessárias. 
Na literatura são propostas terapêuticas com pouca eficácia e pouca evidência do seu benefício.
Ao contrário da dor de causa ORGÂNICA, a dor FUNCIONAL, tem caraterísticas de benignidade. É uma dor que não é constante, não interfere habitualmente com a atividade diária da criança, tem localização peri umbilical, não leva a diminuição do apetite e frequentemente está relacionada com o período escolar. 
Podem ser usados probióticos ou antiespasmódicos, mas o tratamento mais eficaz passa por apoio psicológico, mais concretamente com terapia cognitivo-comportamental. O fundamental para a resolução deste quadro que pode ser lenta, é tranquilizar os pais e a criança. Explicar-lhes que é uma situação benigna. A dor que a criança refere, deve ser valorizada, mas os pais e educadores devem tentar acalmar a criança e oferecer-lhe estratégias de distração da dor. Não alterar as rotinas habituais da criança.
Naturalmente, este diagnóstico é de EXCLUSÃO, ou seja, apesar da história clínica ser sugestiva, alguns exames auxiliares devem ser efetuados, tais como: exames analíticos com estudo da doença celíaca; presença ou não de anemia; infeção urinária; parasitose intestinal, entre outros.
A dor abdominal em idade pediátrica é na sua maioria dos casos, de etiologia benigna, mas uma história clínica pormenorizada é fundamental para um melhor entendimento do quadro e poderá evitar a realização de exames invasivos desnecessários.