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Enf.ª Ana Freitas

Mestranda em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediatria

 

Enf.ª Ana Freitas

Alta hospitalar do bebé prematuro
Funções e competências do enfermeiro

HPA Magazine 15

 

A prematuridade é a principal causa de internamentos numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais. A nível mundial, nascem 15 milhões de recém-nascidos (RN) prematuros, o que significa que em 10 nascimentos 1 bebé nasce prematuro. Em Portugal, registou-se entre 2013 e 2018 um aumento da percentagem de prematuros de 7,8% para 8%. 



 

O nascer prematuro é algo inesperado e uma situação delicada que despoleta nos pais preocupações, ansiedade, inseguranças e um sentimento de frustração pela separação do seu filho. A família vivencia sentimentos opostos assentes ao mesmo tempo na esperança, ao testemunhar a luta do prematuro pela vida, mas também a ansiedade pela constante instabilidade clínica.
A necessidade de uma prolongada permanência hospitalar, com consequente afastamento dos pais do bebé por tempo indeterminado, o constante contacto stressante com um ambiente hospitalar, a aparência e as condições de saúde do bebé prematuro, o recurso elevado de tecnologias e a interação com diferentes profissionais de saúde podem dificultar o desenvolvimento do papel da parentalidade e, afetar o vínculo entre os prematuros e os seus pais.
O nascimento de um bebé é um fenómeno único envolto numa multiplicidade de emoções. No entanto, o nascimento de um filho prematuro é um choque, comprometendo a parentalidade e destruindo as expectativas que os pais criam ao longo da gestação ao idealizarem um filho imaginário. Vivem a parentalidade de forma diferente quando comparado quando têm um bebé que não precisa de cuidados intensivos; vivem “presos” num ambiente hospitalar, muitas vezes altamente stressante e envolto de muita tecnologia, monitores e alarmes. 
A chegada da alta hospitalar é um momento muito esperado pelos pais, mas também ao mesmo tempo assustador, pois é repleta de desafios e medos, sendo caracterizado por expectativas e incertezas, pois é um ponto de viragem, em que os pais se deparam com o momento em que assumem verdadeiramente e de forma autónoma os cuidados ao bebé. É, por isso importante o envolvimento dos pais em cada passo, em cada cuidado, o mais precocemente possível. Com a envolvência dos pais nos cuidados aos seus filhos, contribui-se para a construção da identidade parental, para o aumento da sua confiança nos cuidados e na preparação da alta hospitalar. 
Para o sucesso desta etapa é importante a presença de uma equipa de enfermagem que promova a contínua participação dos pais, de forma a que estes façam parte de todo o processo, capacitando-os, orientando-os e apoiando-os, para que no momento da alta se sintam confiantes e capazes. 
O termo capacitar é um conceito muito usual na área da saúde e surge principalmente como forma de operacionalizar o conceito de empoderamento, ou seja, dar à pessoa poder para que esta tenha recursos para tomar a decisão e ter poder de escolha e de autonomia sobre o que acontece na sua vida, cabendo aos profissionais de saúde estimular essa capacidade. 
 

Neste sentido, a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais necessita de uma equipa de enfermeiros especializados e formados na área da Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, sendo estes fundamentais para todo este processo de capacitação, orientação e apoio aos pais. 
O papel do enfermeiro facilita a aquisição de conhecimentos relativos à saúde, proporcionando aprendizagens de habilidades e competências para o exercício da parentalidade, bem como avalia o desenvolvimento da mesma, implementa e gere em parceria um plano de saúde promotor da parentalidade, procurando sistematicamente oportunidades para trabalhar com a família e a criança, no sentido de orientar para a escolha de comportamentos que potenciem a saúde. 
Os enfermeiros desenvolvem estratégias que promovem o vínculo entre pais e filhos, ajudando-os a adquirir autoconfiança e independência no cuidado ao seu filho prematuro, após a alta hospitalar. 
A intervenção de enfermagem não está assente apenas nos cuidados do dia-a-dia, como nos cuidados de higiene, alimentação/amamentação e conforto, mas também, num cuidado holístico, considerando múltiplas perspetivas, como as psicossociais e culturais da unidade familiar. 
Apresentam, desta forma, um conjunto de diversas competências com poder para contribuir para uma construção de uma sociedade cada vez melhor com cidadãos mais informados, mais capacitados e melhores decisores relativamente às suas questões de saúde. 
O acompanhamento do recém-nascido prematuro e da sua família após a alta hospitalar fazem parte das políticas de saúde e são essenciais para a promoção da saúde e prevenção da doença do bebé. 
Desta forma, é importante a assiduidade nas consultas médicas e das consultas de enfermagem, no âmbito da consulta externa de Pediatria, onde é realizada uma avaliação holística da criança, um acompanhamento e uma continuação da capacitação e deteção precoce das situações de risco, bem como a promoção da toda a potencialidade do bebé e da sua família, encaminhando-os para o sucesso.