Enfermeiro Especialista
em Saúde Materna
Serviço de Ginecologia
e Obstetrícia
HPA Magazine 24 // 2025
As evidências científicas apontam para claras vantagens na promoção de posições verticais ou laterais, que permitem vantagens anatómicas, uma participação mais ativa da parturiente com benefícios psicológicos no trabalho de parto e na parceria com os profissionais.
Cabe aos profissionais aconselhar e analisar os acontecimentos do parto, sabendo que a escolha definitiva é da mulher salvaguardando sempre em conjunto, o bem-estar fetal.
Vamos aqui explorar algumas alternativas que as parturientes podem optar esclarecendo vantagens ou desvantagens de acordo com alguns estudos publicados.
Diferentes tipos de posição a adotar no período expulsivo:
As posições de parto podem ser divididas em posições eretas em que o ângulo entre os membros inferiores e o tronco é superior a 45º que englobam variantes como a posição de pé, sentada, de cócoras, de joelhos (apoiada com barra ou contra a cabeceira da cama). Posição de gatas (posição de quatro apoios). Posição lateralizada com apoio de bola de amendoim. Versus a tradicional posição horizontal litotómica (deitada de costas ou semi reclinada).
Vários estudos procuraram comparar as vantagens e desvantagens de cada posição, abordando as diferenças entre cada escolha e, que podem ajudar a mulher a decidir a sua posição para o seu parto.
Vamos aqui apresentar de uma forma sucinta e genérica as diferenças e os resultados esperados mais prováveis associados às diferentes posições.
Posição litotómica - Posição deitada de costas
Historicamente está descrito que o Rei Francês Luís XIV no sec. XVII foi a primeira pessoa que fez a sua mulher deitar-se de costas para parir porque gostava de ver o parto. A posição generalizou-se em França, Europa e depois foi adotada pela medicina em todo o mundo ocidental sendo uma das posições mais utilizadas até hoje.
Anatomicamente existe maior imobilidade do osso sacro e dos estreitos do canal de parto das parturientes. Esta posição pode implicar uma maior compressão na artéria aorta podendo dificultar a correta oxigenação fetal.
A parturiente pode sentir maior sensação de dor com consequente mais pedido de analgesia. Os esforços expulsivos podem ser menos eficazes, podendo tornar mais lenta a descida da apresentação e o período expulsivo.
Pode existir maior possibilidade de lacerações de 3º ou 4º grau e menor ocorrência de períneo intacto
Permite uma visualização facilitada do períneo pelo profissional, podendo ser adotadas medidas de proteção perineal.
Posições eretas:
Na utilização destas posições existe uma a menor compressão dos vasos centrais como a aorta e a veia cava o que permite uma melhor circulação uterina e da placenta.
Os maiores diâmetros da pelve materna juntamente com a gravidade auxiliam a progressão fetal no canal de parto.
A posição melhora a eficácia das contrações uterinas e dos esforços expulsivos, encurtando a duração do período expulsivo
Estas posições permitem uma participação mais dinâmica da parturiente com vantagens anatómicas e psicológicas da mulher no controlo do seu trabalho de parto.
A parturiente pode facilmente mudar para outras posições complementares e reversíveis.
Os esforços expulsivos são tendencialmente menos exigentes, as parturientes podem sentir menor desconforto e existe uma maior tolerância à dor.
Existem mais possibilidades de ocorrência de mais lacerações perineais, mas está geralmente associado a uma menor taxa de realização de episiotomia.
Pode existir um sobrestimação da hemorragia no parto.
Posição de cócoras
A posição de cócoras permite a abdução dos membros inferiores e aumenta os diâmetros pélvicos. Esta posição aproveita a gravidade e os esforços expulsivos são mais eficazes chegando a ser útil na distocia de ombros.
Permite um menor acesso visual da evolução dos tecidos do períneo pelos profissionais e menor controlo de proteção perineal e com isso maior possibilidade de ocorrência de lacerações.
Esta posição está associada a maior possibilidade de hemorragia pós-parto.
As parturientes não costumam aguentar fisicamente esta posição muito tempo, pois referem cansaço e dormência ao nível das pernas, daí ser vantajoso explorar posições complementares.
Posição lateralizada
Esta posição promove a assimetria dos estreitos inferiores e de mobilidade do sacro que pode facilitar a descida de apresentação fetal.
A posição lateralizada associada a bola de amendoim permite um maior conforto pélvico à parturiente, melhor gestão do cansaço. As parturientes relatam algum alívio da dor durante os puxos ao abraçar a bola amendoim com as pernas, facilitando os esforços expulsivos.
Esta posição lateralizada permite aos profissionais um bom acesso visual às condições do períneo durante o período expulsivo, facilitando o controlo e a implementação de medidas de proteção perineal.
Os esforços expulsivos envolvem um menor risco de laceração e um menor recurso a episiotomia com maior taxa de períneos intactos.
Esta posição minimiza o cansaço de posições que exigem mais esforço por pressão nos membros inferiores.
Posição de quatro apoios
A posição de quatro apoios ou apoio com barra permite uma melhor oxigenação do feto pois o seu peso está “suspenso” sobre o ventre materno.
Nesta posição a bacia da mulher está “solta” para uma maior liberdade de movimentos da parturiente.
Numa apresentação posterior alta pode favorecer a rotação para posição anterior fetal facilitando a sua progressão no canal de parto
As parturientes podem experienciar uma menor sensação de dor e um maior descanso entre contrações.
Em resumo a melhor posição para o parto é aquela na qual a mulher se sente confortável, sendo uma decisão pessoal, não é uma decisão do profissional que acompanha o nascimento. Ao profissional cabe oferecer orientação caso a posição em que ela se encontre não esteja a contribuir para a evolução do parto e, nesses casos, o seu papel é oferecer alternativas mais favoráveis, levando em conta a progressão e o encaixe do bebé na pelve materna.
Mas a decisão sobre a sua utilização é da parturiente desde que não existam riscos para o feto. O consentimento informado é de especial valor na postura profissional e revela importância e respeito pelos direitos da mulher.