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Dr.  Pedro Morais Silva

Imunoalergologista

O estranho mundo dos alérgicos e das alergias

HPA Magazine 6


As doenças alérgicas estão a aumentar em todo o mundo e manifestam-se com formas cada vez mais complexas e graves. Estima-se que entre 20 e 30% da população portuguesa possa ser afetada por um ou mais problemas alérgicos como asma, rinite, eczema, urticária e alergia a alimentos ou a medicamentos. Este aumento de frequência é particularmente problemático nas crianças que são desproporcionalmente afetadas.
Nascemos ou tornamo-nos alérgicos? Ser alérgico é uma condição para sempre? Porque se é alérgico só a determinadas substâncias? 
Estas foram algumas questões que colocámos ao Dr. Pedro Morais Silva, assistente hospitalar de Imunoalergologia e assistente convidado da Faculdade de Medicina do Algarve.



 

O QUE É A ALERGIA?
A alergia é uma resposta exagerada e inadequada do nosso Sistema Imunitário contra substâncias inofensivas do meio ambiente. Numa situação normal, o nosso organismo combate agentes que possam causar doenças, como bactérias ou parasitas e “tolera” substâncias benéficas como os alimentos, o ar que respiramos ou os medicamentos. 
Nas pessoas alérgicas, formam-se anticorpos especiais (do tipo IgE) que interpretam incorretamente uma substância inofensiva (um alergénio) como um agressor. Esses anticorpos existem no nariz, nos olhos, nos brônquios, na pele e no sistema digestivo e causam uma inflamação intensa que origina os sintomas típicos da alergia.

E ENTÃO, PORQUE NOS TORNAMOS ALÉRGICOS?
Chamamos “atopia” à predisposição genética, pessoal ou familiar para a produção desses anticorpos especiais contra os alergénios do meio ambiente. Uma criança com um progenitor alérgico, por exemplo, tem 40 a 60% de risco de também vir a ter alergia. Se os dois pais foram alérgicos, a probabilidade aumenta para 60 a 80%. Pelo contrário, o risco é muito baixo (aproximadamente 5%) se não existir alergia na família. 
Mas as doenças alérgicas são multifatoriais, isto é, são influenciadas tanto pela genética como por factores ambientais. As infeções respiratórias virais e a exposição a poluentes, sobretudo ao fumo de tabaco parecem ser igualmente importantes para o aparecimento de problemas alérgicos. Além disso, o sedentarismo, a obesidade e o menor contato com a natureza também parecem contribuir para a epidemia de alergia que surgiu no final do século XX.

AS ALERGIAS ESTÃO MESMO A AUMENTAR? E PROPORCIONALMENTE HÁ MAIS CRIANÇAS OU ADULTOS ALÉRGICOS?
Não parece haver dúvidas de que as doenças alérgicas são cada vez mais frequentes, sobretudo nas crianças. Estima-se que em Portugal aproximadamente 10% da população (cerca de 1 milhão de pessoas) sofra de asma brônquica. E na idade pediátrica, essa percentagem é ainda maior, cerca de 15%. Além disso, mais de 20% das crianças portuguesas têm queixas de rinite, 10% têm eczema atópico e de 5 a 10% sofrem de alergia alimentar. A prevalência de todas estas doenças praticamente duplicou nos últimos 25 anos. 

PORQUE SOMOS ALÉRGICOS A UMAS SUBSTÂNCIAS E NÃO A OUTRAS? 
Regra geral, somos alérgicos a substâncias comuns do nosso meio ambiente. Por exemplo, os habitantes do Algarve são alérgicos aos pólenes e aos ácaros da região, que são diferentes daqueles que são encontrados no Norte de Portugal e daqueles que existem noutros países. Cada região tem as suas particularidades.

QUAIS SÃO OS ALERGÉNIOS MAIS PREVALENTES NA NOSSA POPULAÇÃO E CONCRETAMENTE NO ALGARVE?
De acordo com um estudo que realizámos recentemente aqui no Barlavento Algarvio, a alergia respiratória que foi identificada mais frequentemente (em 58% dos casos) foi aos ácaros do pó doméstico, sobretudo a uma espécie chamada Dermatophagoides Pteronyssinus. Os ácaros são pequenos animais que vivem no pó das casas, em especial nos quartos de dormir. Alimentam-se de restos da nossa pele e preferem casas quentes e húmidas. Crescem sobretudo nos colchões, almofadas, alcatifas, sofás e peluches, mas podem viver em qualquer sítio que acumule pó. Já os pólenes mais importantes parecem ser os de gramíneas selvagens (também chamados de fenos) e de oliveira.

E SER ALÉRGICO “É PARA A VIDA?”
Depende. Regra geral o Sistema Imunitário dos doentes alérgicos continua a reconhecer os alergénios a que se sensibilizou durante toda a vida. Muitas vezes até adquire novas sensibilizações que fazem com que a doença se agrave! 
Ainda assim, a frequência dos sintomas de asma e de eczema tem uma tendência para diminuir nos adultos. Por outro lado, a prevalência de rinite alérgica parece aumentar com a idade e a alergia alimentar pode ser transitória ou “para a vida” de acordo com o alimento implicado (a alergia ao leite e ao ovo têm muito melhor prognóstico que a alergia ao camarão ou aos frutos secos).

QUER NOMEAR ALGUNS CONSELHOS GERAIS PARA QUEM TEM ALERGIAS?
Além dos tratamentos específicos de cada doença, as alergias podem melhorar significativamente com controlo ambiental, desde que se saiba a que substâncias o doente é alérgico.
Nos casos da alergia aos ácaros, por exemplo, o contato ocorre em espaços fechados, normalmente em casa ou no trabalho. Por isso, é útil reduzir os livros ou brinquedos espalhados nos quartos e guardar os que existem em estantes ou caixas fechadas.
Também se devem evitar lençóis de flanela, polares e cobertores. Os edredões sintéticos são melhores do que os de penas. Toda a roupa de cama deve ser lavada a 60º. E idealmente devem ser utilizadas capas impermeáveis anti-ácaros nos colchões e nas almofadas. Para a limpeza da casa, é melhor utilizar um pano húmido para não levantar o pó. As carpetes e alcatifas podem ser a “casa” de grandes populações de ácaros, pelo que o melhor é não as ter em casa. Por fim, recomendamos investir num aspirador com filtro HEPA (não precisam de ser aspiradores de água que regra geral são bem mais dispendiosos) e aspirar o colchão e os sofás semanalmente. 
No caso da alergia aos pólenes, o contacto ocorre normalmente no exterior, pelo que é mais difícil de os evitar se se sai de casa. Felizmente, a grande maioria dos pólenes que causa alergia no Algarve só surge na primavera. Recomendo consultar o Boletim Polínico (disponível no site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica em www.spaic.pt) para saber quando os níveis polínicos estão mais elevados. Nos dias mais quentes e ventosos da primavera talvez seja preferível evitar atividades ao ar livre. Nesses dias, os óculos de sol podem proteger os olhos do embate com os pólenes. Por fim, para arejar os quartos, evitar abrir as janelas durante o dia (existem menos pólenes na atmosfera durante a noite).

POR FIM, É POSSÍVEL PREVENIR ALERGIAS?
Nas crianças existem algumas atitudes que podem fazer muita diferença. O aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida é recomendado a todos os recém-nascidos tanto pelo seu valor nutricional, como pela capacidade que tem em regular corretamente o Sistema Imunitário. Esta medida parece ter um valor protetor no desenvolvimento de várias alergias, sobretudo o eczema, a asma na infância e a alergia alimentar. Quando não é possível amamentar, ou quando o leite materno não é suficiente, as fórmulas hipoalergénicas de leite hidrolisado parecem ser superiores às fórmulas normais ou às fórmulas de soja na prevenção de alergia em crianças com pais alérgicos.
Por fim, a exposição ao fumo de tabaco (e menos frequentemente ao fumo de lareira) durante a gestação, no recém-nascido a na primeira infância parece ser incrivelmente prejudicial para o desenvolvimento pulmonar da criança.
Ainda assim, mesmo quando se têm todos os cuidados, por vezes a alergia surge. Felizmente a Medicina tem acompanhado este aumento progressivo das doenças alérgicas e existem hoje diversos meios de diagnóstico e de tratamento para minimizar e mesmo reverter o impacto que estas têm na qualidade de vida dos doentes.