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Enf.º Tito Félix

Enfermeiro Especialista  em Saúde Materna e Obstetrícia
Serviço de Ginecologia e Obstetrícia

Enf.º Tito Félix

Gravidez em idade materna avançada

HPA Magazine 22 // 2024


GRAVIDEZ GERIÁTRICA: UM CONCEITO DO PASSADO?
Tradicionalmente o conceito de gravidez geriátrica reportava-se exclusivamente a uma gravidez numa mulher com mais de 35 anos de idade. No entanto, este conceito tão redutor está ultrapassado. Se está a programar engravidar e ter um bebé com mais de 35 anos de idade, esta designação já não lhe será aplicada. Os peritos, em vez de uma classificação rígida com base unicamente no nível etário, têm optado por uma individualização da grávida, preferindo a designação de Idade Materna Avançada (IMA). Assim, para além da idade materna são considerados os fatores genéticos, a história clínica passada e atual da mulher e a forma como tudo isso vai influenciar a conceção e a gravidez.

 


Gravidez em idade materna avançada


 

ADIAMENTO DA MATERNIDADE
No passado, a maternidade ocorria entre os 20 e os 30 anos. Por vezes, até antes. O casamento acontecia cedo e a constituição de família estava diretamente relacionada. A mulher raramente tinha ambições de carreira e as funções de doméstica, associadas à maternidade, preenchiam integralmente o seu papel social. Esta tendência inverteu-se e a mulher encontra a sua realização plena noutros campos, adiando a maternidade. E o casamento não conduz de imediato à constituição e alargamento da família. A carreira, a estabilidade material e financeira, a habitação, os planos de viajar sem filhos, a instabilidade profissional, entre outros fatores, remetem a parentalidade para um segundo plano. Por vezes, o facto de encontrar tardiamente um companheiro determina igualmente que o desejo de parentalidade seja adiado.
Atualmente, estima-se que mundialmente cerca de 19% de todas as gravidezes e 11% de primeiras gravidezes ocorrem depois dos 35 anos, sendo a média etária para um primeiro filho de 27,1 anos, em comparação com 21,4 anos nos anos 70.
Em Portugal, a idade média materna para o nascimento do primeiro filho também tem aumentado nos últimos anos. Em 1994 era de 25,4 anos, em 2004 foi de 27,4 e em 2014 foi de 30 anos. Estes dados corroboram um aumento médio de 2,1 anos na idade materna a cada 10 anos, para o nascimento do primeiro filho.

GRAVIDEZ E MENOPAUSA
Apesar do alarme do relógio biológico tocar mais cedo, engravidar depois dos 35 anos é cada vez mais comum e, pelas mais diversas razões há muitas mulheres que o fazem com sucesso aos 40 e 50 anos. A diferença é que o processo de conceção, em vez de ser natural e espontâneo pode ser acompanhado de métodos de reprodução assistida. Isto porque a opção pela maternidade tardia pode ser dificultada pela proximidade da menopausa e as alterações orgânicas que ocorrem nesta fase. Portanto é fundamental compreender como a menopausa afeta a fertilidade, para que a mulher programe a sua gravidez preferencialmente dentro da idade reprodutiva.
A menopausa ocorre no âmbito de uma faixa etária alargada, genericamente entre os 45 e os 58 anos de idade, podendo ocorrer muito antes disso, por razões clínicas diversas (tratamentos médicos e/ou cirúrgicos), só estando definitivamente instituída quando a mulher não menstrua por um período superior a 12 meses.

ENGRAVIDAR AOS 50
Biologicamente a mulher nasce com todos os óvulos de que vai dispor e que vai libertar em cada ciclo menstrual, indo diminuindo até à menopausa, isto é, até terminar a sua idade fértil. Estima-se que no início da puberdade uma mulher dispõe de 500 mil óvulos, cerca de 25 mil por volta dos 30 anos e cerca de mil aos 51 anos. Os óvulos não diminuem só em quantidade como também em qualidade. A pouca quantidade determina a probabilidade em engravidar. A pouca qualidade determina a probabilidade de anomalia genética/alterações cromossómicas. Por isso se compreende a dificuldade em engravidar naturalmente com IMA e a necessidade quase certa de recurso a um especialista em fertilidade. A preservação de óvulos criopreservados colhidos antes dos 35 anos ou o recurso a óvulos doados, podem ser uma solução para uma gravidez adiada. Portanto, não é impossível engravidar aos 50 mas é muito raro e é um processo que envolve sempre um especialista em reprodução medicamente assistida.
De acordo com um estudo efetuado com uma amostra de 58 mil mulheres, ficou demonstrado que com 25 anos, 4,5% das mulheres não conseguiam engravidar naturalmente, o mesmo se passando com 20% das mulheres aos 38 anos, 50% aos 41 anos, 90% aos 45 anos e 100% aos 50 anos. Efetivamente, com o avançar da idade a probabilidade de engravidar diminui drasticamente devido à quantidade e qualidade dos óvulos disponíveis. No entanto, teoricamente, haverá sempre essa possibilidade desde que haja ovulação. Se o ovário produzir um só óvulo viável e ele for fertilizado, terá lugar a conceção. O método de Fertilização in Vitro (FIV) permite a utilização tanto de óvulos próprios como doados criopreservados.

Se faz parte do seu projeto de vida ser mãe e está a planear a sua gravidez na fase em que se considera, pelo exposto, que está em IMA, a idade só por si não constitui um obstáculo absoluto. A medicina da reprodução existe para a ajudar a concretizar esse objetivo. Leve em linha de conta o seu estado de saúde geral, os seus antecedentes clínicos, a medicação da qual depende, pondere a realização de um estudo pré-concecional e agende uma consulta com um especialista em medicina materno-fetal. Apesar de ser uma gravidez de risco existem condições para que decorra de forma saudável, segura e prazerosa, desde que devidamente vigiada e controlada. E sempre consciente dos riscos calculados para si e o feto.